Vinhos de Curtimenta: O que são? Uma Viagem ao Passado com Olhos no Futuro
O mundo dos vinhos está em constante evolução, e um dos estilos que tem vindo a ganhar destaque nos últimos anos é o dos vinhos de curtimenta, também conhecidos como vinhos laranja. Estes vinhos, produzidos a partir de uvas brancas que passam por um processo de fermentação semelhante ao dos vinhos tintos, têm raízes históricas profundas que remontam a milhares de anos, e hoje estão a ressurgir com uma popularidade renovada.
Com um sabor distinto, textura rica e cor âmbar característica, os vinhos de curtimenta oferecem uma experiência de degustação única. Explorámos o que são exatamente estes vinhos, o seu contexto histórico e cultural, e destacámos três marcas portuguesas e três marcas internacionais que estão a fazer um trabalho notável nesta área.
O que são os Vinhos de Curtimenta?
Os vinhos de curtimenta, também conhecidos como vinhos laranja, são produzidos a partir de uvas brancas que passam por um processo de fermentação em contacto com as suas cascas, grainhas e, em alguns casos, engaços (os ramos dos cachos). Este método, que é normalmente reservado para os vinhos tintos, resulta numa extração de cor, taninos e complexidade aromática que não se encontra nos vinhos brancos convencionais.
Este processo pode durar de alguns dias a vários meses, dependendo do estilo desejado pelo produtor, e dá origem a vinhos com cores que variam do dourado ao âmbar intenso, e com sabores profundos, ricos em especiarias, frutos secos e ervas aromáticas.
Enquadramento Histórico e Cultural dos Vinhos de Curtimenta
O processo de curtimenta é ancestral, datando de há mais de 6.000 anos, e teve origem na região do Cáucaso, particularmente na Geórgia, que é muitas vezes referida como o berço do vinho. Naquela época, o vinho era fermentado e envelhecido em grandes ânforas de barro chamadas qvevris, muitas vezes enterradas no solo para controlar a temperatura. Este método tradicional manteve-se em uso ao longo dos séculos e, embora tenha caído em desuso com o advento da viticultura moderna, está a experimentar um renascimento nas últimas décadas.
Nos últimos anos, os vinhos de curtimenta têm sido redescobertos e reinterpretados por enólogos de todo o mundo, que procuram regressar a técnicas mais naturais e ancestrais. O movimento dos vinhos naturais tem sido um impulsionador do renascimento deste estilo, com produtores a optarem por práticas mínimas de intervenção na adega, deixando o vinho expressar-se de forma mais pura e autêntica.
3 Vinhos de Curtimenta Portuguesas em Destaque
Portugal, com a sua rica tradição vitivinícola e diversidade de castas autóctones, também tem vindo a abraçar a produção de vinhos de curtimenta. Aqui estão três quintas que têm vindo a fazer um trabalho relevante nesta área:
Quinta da Costa do Pinhão – Curtimenta
Situada no coração do Douro, a Quinta da Costa do Pinhão tem sido uma referência na produção de vinhos de curtimenta. Com um foco em vinhos naturais, a sua Curtimenta é feita a partir de uvas brancas autóctones e fermentada com as cascas durante várias semanas, resultando num vinho complexo e cheio de nuances de frutos secos e especiarias.

Herdade do Rocim – Amphora Branco de Curtimenta
No Alentejo, a Herdade do Rocim é conhecida pela sua ligação às tradições ancestrais, especialmente na utilização de ânforas de barro. O seu Amphora Branco de Curtimenta é fermentado em ânforas, seguindo métodos antigos, e é um exemplo brilhante de como o Alentejo está a redescobrir o passado para criar vinhos com alma e caráter.

Aphros – Loureiro de Curtimenta
Na região dos Vinhos Verdes, a Aphros é um dos nomes mais respeitados na produção de vinhos de curtimenta. O seu Loureiro de Curtimenta é feito com a casta Loureiro, tradicional da região, e destaca-se pela sua frescura e acidez, complementada por uma estrutura rica e aromas de casca de citrinos e mel.

3 Exemplos Internacionais de Vinhos de Curtimenta
O movimento dos vinhos de curtimenta está longe de ser exclusivo de Portugal, sendo que muitos produtores internacionais estão também a explorar esta técnica ancestral. Aqui estão três exemplos internacionais notáveis:
Radikon – Oslavje (Itália)
Situado na região de Friuli, no nordeste de Itália, Radikon é um dos pioneiros do renascimento dos vinhos de curtimenta. O seu Oslavje, feito a partir de uvas brancas fermentadas com as cascas, é um vinho laranja icónico, com uma textura rica e sabores de frutos secos, especiarias e mel.

Pheasant’s Tears – Rkatsiteli (Geórgia)
A Geórgia é o berço dos vinhos de curtimenta, e Pheasant’s Tears é uma das adegas mais respeitadas que continua a usar métodos tradicionais de vinificação. O seu Rkatsiteli, fermentado em qvevris, é um vinho profundo, com notas de alperce seco, ervas aromáticas e taninos marcantes.

Gravner – Ribolla Gialla (Itália)
Outro grande nome da vinificação em curtimenta em Itália, Gravner é uma referência incontornável. A sua Ribolla Gialla, fermentada em ânforas durante longos períodos, é um vinho que expressa ao máximo o potencial da casta e da técnica de curtimenta, com camadas de sabor que evoluem ao longo do tempo.

Vinhos de Curtimenta – Uma Experiência Única para Explorar
Os vinhos de curtimenta oferecem uma experiência sensorial única, com sabores complexos e texturas diferentes dos vinhos brancos ou tintos convencionais. A sua história milenar, combinada com a recente popularidade no mercado dos vinhos naturais, torna-os uma excelente escolha para quem procura algo fora do comum.
Quer seja através de marcas portuguesas que estão a redescobrir o património vinícola nacional, ou de produtores internacionais que continuam a preservar estas tradições ancestrais, os vinhos de curtimenta são um testemunho vivo da história e da evolução da arte de fazer vinho. Estes vinhos, com o seu carácter único, são a prova de que, às vezes, olhar para o passado é a melhor maneira de criar algo inovador e apaixonante.