Não há dúvidas! A Tupperware transformou a forma como armazenamos e preparamos alimentos, criando oportunidades únicas para mulheres, e não só, um pouco por todo o mundo. Desde o pós-guerra até ao século XXI, do seu nascimento ao seu desaparecimento, a Tupperware é uma marca de renome e uma que, mesmo “em vias de extinção”, deixará o seu nome marcado de forma veemente na “nossa” história.
O Nascimento de uma Ideia: A Herança de Earl Tupper
A história da Tupperware é muito mais do que a criação de recipientes de plástico. É uma história que conta com inovação, visão e o empreendedorismo que foi capaz de transformar uma ideia simples numa revolução global, que moldou a vida doméstica e profissional de milhões de pessoas. Em plena era de pós-guerra, em 1946, Earl Tupper, um inventor visionário, introduziu os primeiros produtos Tupperware, utilizando materiais que, até então, eram maioritariamente associados ao armamento militar.

Créditos: Tupperware Portugal Facebook
O seu primeiro grande sucesso foi a Tigela Maravilhosa, um recipiente leve e resistente, que rapidamente se destacou face aos tradicionais recipientes de vidro e cerâmica. Mais leve, menos dado a quebras, como o vidro ou as loiças tradicionais da época, e principalmente, com um toque de génio e inovação, no uso de tampas herméticas, inspiradas nas latas de tinta, que preservavam a frescura e o sabor dos alimentos de forma incomparável.
Com o aumento exponencial de nascimentos, mais conhecido por baby boom do pós-guerra, eram as mulheres que assumiam as rédeas das lides da casa e a necessidade de se ter uma cozinha organizada e arrumada, fez com que a Tupperware acabasse por se revelar uma necessidade, já que preservar os alimentos frescos mais tempo, era realmente uma façanha difícil de se alcançar ou pelo menos uma mais complexa de se conseguir.
Todavia, e apesar de todos estes pontos a favor deste produto, a verdade é que as vendas não se concretizaram no volume esperado e desejado. Vendidos principalmente em lojas de ferragens, além de outros pontos de venda pouco rentáveis, era evidente que estava a faltar o fator diferenciador. Este acabaria por ser descoberto, com o início das demonstrações ao consumidor, para que este pudesse, em primeira mão, constatar os pontos fortes em adquirir um destes recipientes.

Tupperware Portugal Facebook



Reuniões Tupperware: Brownie Wise e a Venda Direta
Para tentar colmatar esta dificuldade, foi Brownie Wise, uma mulher de negócios determinada, que encontrou uma solução revolucionária e uma das que mais ficaria na história da marca: as famosas “Reuniões Tupperware” (ou Tupperware Parties), que durante muito tempo e, de certa forma ainda hoje, representavam autênticos eventos sociais. Este método, introduzido em 1951, consistia em encontros informais onde os produtos eram demonstrados em ambientes domésticos, com o objetivo de mostrar todas capacidades dos produtos e, mais importante que isso, permitir ao consumidores ver e experimentar em tempo real. Com a introdução destas reuniões, não só se aumentaram as vendas, como também se criou uma oportunidade única de carreira para mulheres, numa época em que as opções eram consideravelmente limitadas.

As Tupperware Parties foram, na sua génese, o protótipo de venda direta e porta a porta que conhecemos atualmente e que ainda é utilizada por algumas marcas, mas que, gradualmente, está a perder o seu ímpeto. Todavia, à época, esta forma de venda foi uma plataforma de empoderamento feminino, permitindo a muitas mulheres a gestão do seus próprios negócios, enquanto e simultaneamente, equilibravam as responsabilidades familiares. Este modelo transformou a Tupperware numa marca mundialmente reconhecida, mas também a responsável pelo surgimento de toda uma comunidade global de vendas diretas, ainda hoje, em pleno século XXI, usadas e convocadas a partir de redes sociais, como é o caso do Facebook.

Inovação ao Ritmo da História
Ao longo das décadas, a Tupperware continuou a adaptar-se às mudanças sociais e tecnológicas. Nos anos 60, introduziu produtos destinados à organização e transporte de alimentos, bem como brinquedos, como a famosa Bola do Bebé. Durante os anos 80 e 90, a marca respondeu às novas exigências do mercado com linhas específicas para o micro-ondas, como a Linha UltraPro™ e a Linha CrystalWave™, bem como produtos amigos do ambiente, como caixas reutilizáveis para sanduíches e snacks, que incluíam divisórias.
Nos anos 90, com a tendência crescente para refeições caseiras e a valorização do conforto, a Tupperware expandiu a sua oferta para utensílios de cozinha contemporâneos, mantendo sempre a qualidade e o design engenhoso que definem a marca, como são os casos do Descascador Universal e o Coador Duplo. Seguindo a tradição dos primeiros produtos criados por Earl Tupper, a marca foi conseguindo acompanhar a evolução do mercado, mostrando ser capaz de adaptar-se a variados estilos de vida.
Mantendo um design capaz de acompanhar as novas tendências, a mesma qualidade na construção e a mesma durabilidade, durante e até ao Século XXI, a Tupperware foi um marco digno na adaptação às constantes evoluções do mercado e do mundo, respondendo sempre de uma forma moderna e conveniente no que diz respeito às tarefas domésticas e seus utensílios. Já terá reparado o leitor que sempre que se refere a um destes tipos de recipientes, se refere a eles como sendo “um tupperware”, mesmo que não a esta marca ele pertença.
A Tupperware em Portugal
A chegada da Tupperware a Portugal marcou um capítulo especial na nossa história. Introduzida nos anos 60, mais concretamente em 1965, a marca encontrou no mercado português um público recetivo às suas inovações. Num país em transformação social e económica, os produtos Tupperware foram acolhidos como uma solução prática para a conservação e organização de alimentos, adaptando-se rapidamente ao estilo de vida das famílias portuguesas.
A Fábrica da Tupperware em Portugal
Localizada em Montalvo, mais concretamente na vila da Constância, Abrantes, a fábrica da Tupperware sempre desempenhou um papel crucial na produção global da marca, consolidando a presença de Portugal no mapa industrial da empresa. Assim, Portugal desempenhou um papel fundamental na produção da marca, transformando o nosso país num dos principais centros de produção da Tupperware na Europa, criando um impacto significativo na economia local e na estratégia global da empresa.
Portugal, com a sua localização estratégica e mão de obra qualificada, foi escolhido para acolher uma das unidades de produção mais importantes de toda a estrutura. A fábrica começou por fabricar os recipientes da Tupperware, os quais rapidamente ganharam uma popularidade muito considerável no mercado português, mas também nos internacionais.
Localizada numa zona central de Portugal, beneficiava da proximidade a redes de transporte, que facilitavam a distribuição para outros países europeus. Além disso, o investimento da Tupperware contribuiu para o desenvolvimento económico e social da região, criando centenas de postos de trabalho ao longo dos anos.
A Inevitável Mudança
Mas o tempo, as sucessivas crises económicas, tanto cá como nos EUA, fazia com que a ameaça de encerramento já pairasse há alguns anos, ameaça essa confirmadas por relatos de alguns trabalhadores, alguns com mais de trinta anos de casa. Atualmente, a unidade empregava cerca de 200 pessoas, ainda que tal infraestrutura se mantivesse integralmente dependente da casa-mãe, nos Estados Unidos.
Segundo dados da empresa, confirmados por trabalhadores, as ações da empresa chegaram a valer 95 dólares, comparativamente ao valor atual, que é inferior a um cêntimo. O volume de trabalho, outrora imenso, era agora praticamente residual, o que já vinha a indiciar o quão complicada era a situação em que se encontrava. Os anos de ouro da Tupperware por cá foram entre 2010 e 2017, anos em que se registou um aumento de vendas na ordem dos 50%, altura também em que tinha um dos maiores números de revendedores independentes, a nível nacional.
Foram anos de crescimento significativo, que demarcou a empresa no cenário português e a marca por todo o mundo. O último relatório de contas é referente ao ano de 2022. Com vendas líquidas a rondar os 1,2 milhões de euros, já se sentia uma redução bastante considerável e evidente. E, aos poucos, a curva ascendente desde a sua criação, começava a tomar o caminho oposto, preocupando cada vez mais todos os envolvidos.
A inovação da Tupperware, deixava de o ser, a força das vendas e os canais que até aqui pareciam ser imbatíveis, começavam, também eles, a mostrar sinais de fraqueza. A realidade do país, do mercado, do mundo, lentamente, ia-se mostrando incompatível com a realidade da empresa, com os canais de divulgação e propagação por ela escolhidos. O marketing brilhante, que sempre fizera o âmago da Tupperware, começava rapidamente a perder o brilho.
A Curva Descendente
Os três maiores fatores apontados a esta curva , vão de encontro à mudança de paradigma por esse mundo fora. A falta de criação de novos canais de vendas, mantendo-se quase exclusivamente o formato inicial, ainda que com recursos aos canais digitais tão em voga atualmente, os preços pouco competitivos face a uma concorrência cada vez mais feroz e agressiva e as consecutivas mudanças de liderança na empresa, eram sinais óbvios que o caminho a seguir não poderia nunca ser aquele. A somar a isto, a “guerra” aberta que se criou ao plástico, ainda que este seja muito mais amigo do ambiente, terá sido também outro fator que pesou para esta acentuação na curva em sentido descendente.
De Dia 20 de dezembro de 2024 a 8 de janeiro de 2025
Nem o tradicional ditado português, que diz “a esperança é a última a morrer”, conseguiu dar alguma cor à simpática vila de Constância, quando, em vésperas de Natal, o Munícipio publicou no seu Facebook o anúncio do encerramento da fábrica da Tupperware, no dia 8 de janeiro de 2025, hoje portanto, numa mensagem sentida e com um tom de muita preocupação com o futuro e com o futuro de muitas famílias que lá trabalhavam, alguns casos, famílias inteiras.
Da ESPERANÇA de a Ver Nascer e com a ESPERANÇA de Não a Ver DESAPARECER
A Tupperware, multinacional norte-americana famosa pelos seus recipientes de plástico para armazenamento de alimentos, deu início ao processo de declaração de falência, um marco que reflete anos de queda nas vendas e variadíssimas dificuldades operacionais. O pedido foi submetido ao Tribunal de Falências de Delaware, sob o Capítulo 11, um mecanismo específico que permite à empresa continuar a operar, enquanto reorganiza os seus ativos ou procura potenciais compradores. A notícia provocou uma queda de mais de 50% nas ações da empresa na Bolsa de Nova Iorque, levando à sua posterior suspensão.
Em março de 2024, a Tupperware já tinha adiado a divulgação das contas anuais de 2023, enquanto em junho anunciou o encerramento da sua única fábrica nos Estados Unidos, despedindo cerca de 150 trabalhadores, o que ilustra de forma clara os esforços para mitigar uma crise que se vinha agravando. Agora, o objetivo da empresa é proteger a marca, facilitar um processo de venda e assegurar que possa operar durante a reestruturação. Apesar de rumores sobre potenciais interessados na unidade, o futuro da fábrica permanece incerto.
A história já nos mostrou por diversas vezes que nem sempre o que resulta em pleno, tem obrigatoriamente de ser para sempre. A Tupperware serve como exemplo claro dos desafios enfrentados por uma marca outrora dominante, mas que foi incapaz de se reinventar perante a concorrência, as mudanças de mercado e abandonada a uma gestão que se revelou inadequada. O futuro da marca passa neste momento apenas pela esperança em conseguir sobreviver a este momento negro da sua história, além de servir como alerta bem gritante e sonoro, para empresas que ignorem a necessidade de inovação e adaptação aos novos padrões de consumo e modelos de negócio.