O Contexto Cultural de 2001: A história de Chop Suey! dos System of a Down, a música que se tornou um ícone do metal
Após o ataque de 11 de setembro, os Estados Unidos mergulharam numa atmosfera de trauma e de forte nacionalismo, com uma resposta pública e mediática marcada pelo luto, pela raiva e pela desconfiança. Neste contexto, a letra de Chop Suey! – que incluía as controversas linhas “self-righteous suicide” e “I cry when angels deserve to die” – foi rapidamente considerada “insensível” e até provocadora, dado o impacto recente dos ataques.
A Clear Channel, conglomerado mediático que detinha cerca de 1.100 estações de rádio, emitiu uma lista de mais de 160 músicas com “letras questionáveis” que recomendava serem evitadas no rescaldo dos ataques. Chop Suey! dos System of a Down foi uma das canções incluídas, ao lado de outras com temas alusivos a violência e morte, como “Bodies” dos Drowning Pool e “Shot Down in Flames” dos AC/DC, bem como a discografia inteira dos Rage Against The Machine. Neste clima de censura implícita, canções que anteriormente passavam despercebidas em termos de sensibilidade pública foram subitamente vistas como uma ameaça ao estado emocional dos ouvintes.
A inclusão de Chop Suey! na lista reflete o choque que a letra causou na época. As linhas da música, que falavam de suicídio e de uma espécie de resignação diante da morte, eram facilmente mal interpretadas como sendo demasiado literais ou até desrespeitosas. No entanto, os System of a Down afirma que a letra não foi escrita com qualquer intenção de encorajar ou glorificar o suicídio. Em vez disso, abordava de forma abstrata o julgamento moral sobre a morte, refletindo sobre como as pessoas tendem a julgar as circunstâncias da morte de alguém, seja de forma simpática ou punitiva.
Este tom enigmático e a escolha de palavras intensas não agradaram aos executivos da indústria musical. Para muitos, era um “momento errado” para uma música com uma letra tão ambígua e uma temática difícil. Para outros, contudo, Chop Suey! capturava o espírito tumultuoso e confuso do momento – um reflexo da dor, do julgamento e da reflexão sobre temas de morte e moralidade que muitos americanos enfrentavam após os atentados.
Serj Tankian e o Ensaio “Understanding Oil”
O contexto de Chop Suey! tornou-se ainda mais complexo devido às posições políticas expressas por Serj Tankian, vocalista e compositor dos System of a Down. Poucos dias após o 11 de setembro, Tankian publicou um ensaio intitulado “Understanding Oil” no site oficial da banda. No texto, Tankian fazia uma análise crítica da política externa dos EUA, argumentando que as práticas intervencionistas americanas no Médio Oriente tinham alimentado a radicalização e, consequentemente, contribuído para o extremismo.
O ensaio rapidamente despertou a atenção e o desagrado, tanto do público quanto da própria editora da banda, a Sony, que decidiu removê-lo. Acusado de “justificar o terrorismo”, Tankian foi criticado não apenas pelo conteúdo do texto, mas pela audácia de apresentar uma visão que fugia ao sentimento de patriotismo fervoroso que predominava.
Tankian foi confrontado pela sua própria banda, que temia que o seu posicionamento anti-establishment pudesse pôr em risco a segurança de todos. No entanto, Tankian manteve-se firme, acreditando que a verdade precisava ser dita, independentemente das circunstâncias ou das repercussões.
A Inspiração e o Processo Criativo: A História do Título Chop Suey!
O título Chop Suey! surgiu como um jogo de palavras intencional. Inicialmente, a canção tinha o título provisório “Suicide”, devido ao refrão “self-righteous suicide”. Conscientes de que este nome poderia limitar a sua exposição nas rádios, os membros da banda optaram por um título menos direto. O baixista Shavo Odadjian revelou que Chop Suey! é uma versão abreviada de “suicide”, onde “Suey” representa a palavra “chopped” em duas partes. Algumas edições do álbum Toxicity contêm uma introdução onde Serj Tankian pode ser ouvido a dizer “we’re rolling ‘Suicide’” enquanto o baterista, John Dolmayan, inicia a contagem, deixando uma pista sobre o título original.
Além do trocadilho, a expressão chop suey evocava a atmosfera de antigos filmes de gangsters, onde significava “fazer picadinho” de alguém, um toque sombrio e provocador que capturava a essência da canção e do estilo dos System of a Down.
A Ascensão Meteórica: Como Chop Suey! Sobreviveu à Censura
Apesar da tentativa de censura, Chop Suey! destacou-se pela sua sonoridade única e inovadora. Combinando riffs intensos de guitarra, elementos de rock alternativo e uma base quase hip-hop nas partes faladas, a canção rapidamente conquistou um público devoto. A MTV intensificou a sua transmissão e, mesmo sob a recomendação de censura da Clear Channel, a música prosperou nas rádios alternativas.
A tentativa de silenciar Chop Suey! teve o efeito oposto, catapultando a banda para o estrelato e solidificando o seu impacto cultural. Em 2020, o videoclipe da canção atingiu um bilião de visualizações no YouTube, marcando um feito raro para músicas de metal e reforçando o estatuto de clássico.
A Conexão com o Público e o Legado Cultural
Vinte e quatro anos depois, Chop Suey! continua a ter um impacto profundo, conectando-se com novos ouvintes e inspirando músicos a reinterpretá-la em diversos géneros. Desde versões em cello, interpretações de comédia e até covers por bandas de metal como Motionless In White, Chop Suey! transformou-se num hino transgeracional. JB Brubaker, dos August Burns Red, descreve a canção como “uma música que definiu uma era no rock”.
Para Daron Malakian, a permanência da canção é uma fonte de orgulho. “É incrível que uma música escrita quase por acaso tenha se tornado algo com que tantas pessoas se identificam,” reflete o guitarrista. “Saber que aquilo que criámos ainda tem impacto é especial para mim.”
Chop Suey! transcende o rótulo de canção de rock – tornou-se um símbolo de resistência e reflexão numa época de tumulto. De uma simples ideia nascida no banco de trás de um autocarro em digressão, a música tornou-se um marco para o metal dos anos 2000 e um testemunho da capacidade da arte em desafiar e refletir as complexidades da sociedade.
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