Entre as figuras mais conhecidas da quadra natalícia, destacam-se os Três Reis Magos, tanto pela sua ligação ao nascimento de Jesus Cristo, como pela simbologia que carregam. Mas quem eram estes Sábios do Oriente? Como se tornaram parte integrante da narrativa do Natal? E o que sabemos realmente sobre a sua história?
A Lenda Bíblica dos Magos
Os Três Reis Magos são mencionados exclusivamente no Evangelho de Mateus (capítulo 2, versículos 1-12), que relata a visita destes sábios ao recém-nascido Jesus, em Belém. Não sabemos os seus nomes ou número exato, apenas que vieram do Oriente, guiados por uma estrela, para prestar homenagem ao “rei dos judeus”.
Ao chegarem a Jerusalém, os Três Reis Magos procuraram o governador local, Herodes, para saber onde encontrar o Messias. Herodes, temendo perder o trono, pediu-lhes que informassem o paradeiro de Jesus, porém, os magos, avisados em sonho por Deus, regressaram às suas terras por outro caminho.
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Os Presentes Oferecidos
Na tradição cristã, os presentes oferecidos por estes homens sábios – ouro, incenso e mirra – têm significados profundos. Cada presente carrega um significado especial que transcende o seu valor material, sendo frequentemente interpretado como uma mensagem codificada sobre quem Jesus seria e o papel que desempenharia no mundo.
- Ouro
O ouro, associado à realeza, representa a posição de Jesus como Rei dos Reis. Este metal precioso era tradicionalmente oferecido a soberanos, simbolizando poder, riqueza e autoridade. Para os Magos, o ouro reconhecia a soberania divina do recém-nascido e a sua futura missão como líder espiritual e redentor. - Incenso
O incenso, usado em rituais religiosos, é visto como um tributo à divindade de Jesus. Na época, o incenso era utilizado em cerimónias sagradas, representando elevação espiritual e comunicação com o divino. Oferecer incenso ao menino Jesus, indicava que Ele não era apenas um rei humano, mas também uma figura divina digna de adoração. - Mirra
A mirra, uma resina usada em unguentos e processos de embalsamamento, é interpretada como uma alusão à humanidade de Jesus e ao seu sacrifício final. Este presente apontava para a sua mortalidade, sugerindo que Ele enfrentaria sofrimento e morte em prol da redenção da humanidade.
A combinação destes presentes oferece um profunda reflexão sobre o papel de Jesus: o ouro para o Rei, o incenso para o Divino e a mirra para o Sacrifício. Juntos, são vistos como uma espécie de “profecia” em forma de oferenda, indicando a sua natureza trina: Rei, Deus e salvador.
De Magos a Reis
Apesar de serem referidos como “magos” ou “sábios”, o título de “reis” não aparece na Bíblia. Esta mudança na designação, aconteceu entre o final da Antiguidade e a Idade Média, possivelmente devido à influência do Bispo Tertuliano (século II-III). Ele interpretou passagens bíblicas, como no Salmo 72:11 (“Todos os reis se prostrarão diante dele”), como uma profecia sobre os magos, consolidando a ideia de que seriam reis. Durante a Idade Média, as interpretações associaram cada mago a um dos continentes conhecidos na época – Europa, Ásia e África – reforçando o simbolismo universal da adoração a Jesus.
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Quem Eram e De Onde Vieram?
A Bíblia identifica os Três Reis Magos apenas como vindos do Oriente. Contudo, historiadores e teólogos sugerem que possam ter sido astrónomos, astrólogos ou sacerdotes zoroastrianos, dados os seus conhecimentos sobre as estrelas.
Uma tradição do século VII, escrita por Beda, o Venerável, atribui-lhes origens específicas:
- Melchior (ou Belchior): vindo da Babilónia (Ur dos Caldeus);
- Gaspar: das proximidades do Mar Cáspio, na Pérsia;
- Baltasar: da Arábia, perto do Golfo Pérsico.
Os nomes Gaspar, Melchior e Baltasar surgiram por volta do século VI num documento grego, Excerpta Latina Barbari, tornando-se amplamente aceites na tradição cristã. Curiosamente, outras tradições apontam para um número diferente de magos. Alguns relatos antigos sugerem que eram doze, enquanto outros especulam quatro. O consenso possível e eventual de que se tratavam, de facto, de três magos deve-se aos três presentes mencionados na Bíblia. No entanto, este é um debate atual e um que continua a ser discutido entre estudiosos.
Relíquias Sagradas: Os Supostos Restos Mortais
Os restos mortais dos Três Reis Magos estão atualmente na Catedral de Colónia, na Alemanha. Segundo a tradição, foram encontrados por Santa Helena, mãe do imperador romano Constantino e, inicialmente, transportados para Constantinopla. No século VI, os restos foram reconduzidos para Milão e, em 1164, finalmente transferidos para Colónia, por ordem do imperador Frederico Barba Roxa. Estudos modernos confirmam que as ossadas pertencem a três homens – um jovem, um de meia-idade e um idoso – reforçando a narrativa tradicional.
Curiosidades sobre os Três Reis Magos
- Significados Culturais: Em diferentes países, os Reis Magos são celebrados com festas e tradições únicas. Em Espanha, por exemplo, o Día de los Reyes inclui desfiles e a troca de presentes.
- A Estrela de Belém: Diversas teorias científicas tentam explicar o fenómeno que guiou os Três Reis Magos, incluindo a hipótese de uma conjunção planetária (sugerida por Johannes Kepler), um cometa ou uma supernova.
- Símbolo de Unidade: A associação dos magos a diferentes regiões do mundo antigo simboliza a universalidade do cristianismo, com Jesus sendo reconhecido como salvador por todas as nações.
Os Três Reis Magos ultrapassaram a sua forma mais simples dentro da habitual narrativa bíblica, para se tornarem símbolos de generosidade, sabedoria e devoção. A celebração do Dia de Reis, a 6 de janeiro, marca o encerramento das festividades natalícias, deixando, igualmente, uma marca carregada de simbolismo para a humanidade.