O Natal é uma época mágica onde tradição, sabor e história se encontram à mesa, um pouco por todo o mundo. Entre pratos típicos e celebrações familiares, os Doces de Natal ocupam um lugar especial. Em Portugal, as opções vão desde a cozinha conventual às influências francesas, onde cada doce natalício tem uma origem e significado únicos. Vamos explorar os principais protagonistas da doçaria portuguesa durante a quadra natalícia.
Bolo-Rei: O Rei “sentado” à Mesa
Conhecido como “o” Doce de Natal, o Bolo Rei é incontestável nas mesas portuguesas. É uma iguaria feita de massa fofa enriquecida com frutos secos e frutas cristalizadas. A sua origem remonta às festividades romanas em honra de Saturno, mas o formato atual chegou a Portugal no século XIX, vindo da França. Tradicionalmente, escondia uma fava (quem a encontrava teria que pagar o próximo bolo) e um brinde, símbolo de sorte. Atualmente e apesar da tradição se manter, teve que ser adaptada à atualidade. Ao contrário do que era feito antigamente, onde a fava e o brinde eram escondidos dentro da massa, agora ambos os objetos estão à vista dentro da caixa.
Bolo-Rainha: A Alternativa Elegante
Perfeito para quem não aprecia frutas cristalizadas, o Bolo-Rainha surge como uma versão mais simples, mas igualmente deliciosa. Apenas frutos secos decoram esta variação do clássico, que tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos nas mesas natalícias portuguesas.
Sonhos: Pequenas Nuvens de Sabor
Os sonhos de Natal são bolinhas fofas de massa frita, que levam ingredientes como farinha, ovos, leite e um toque de aguardente ou casca de limão. São leves e macios, e o nome faz jus à sua textura quase etérea. Após serem fritos, são mergulhados numa calda de açúcar ou polvilhados com açúcar e canela. Tal como outros fritos natalícios, os sonhos têm origens conventuais. O nome está associado ao seu aspeto fofo, que cresce ao fritar, como se a massa “sonhasse”. Há quem prepare sonhos com recheios como creme de ovos ou chantilly, adaptando-os ao seu gosto mais pessoal.
Filhós: Tradição do Interior
As filhós são uma tradição profundamente enraizada no interior de Portugal, especialmente no Centro e no Norte. Estas pequenas delícias são feitas com uma massa simples de farinha e ovos, que pode ser enriquecida com abóbora ou laranja, dependendo da região. Após serem fritas, são polvilhadas com açúcar e canela.
Há duas formas mais comuns, as Filhós de forma, uma versão mais crocante, feita com moldes de ferro que criam desenhos delicados na massa e as Filhós de abóbora, com uma textura mais macia e um sabor ligeiramente mais doce, muito populares no Ribatejo e em Trás-os-Montes. Tradicionalmente, as filhós eram preparados em grandes quantidades nas cozinhas das aldeias, com famílias inteiras a participar no processo e pensa-se que a tradição das filhós está relacionada com antigas celebrações pagãs do solstício de inverno.
Coscorões: O Doce Mistura com a Crocância
Os coscorões são Doces de Natal conhecidos pela sua textura crocante e sabor simples, mas marcante. A massa é esticada até ficar bem fina, cortada em formatos retangulares e frita até dourar. Depois, são polvilhados com açúcar e canela. É uma iguaria que tem raízes na doçaria mourisca, especialmente devido à sua simplicidade e ao uso de especiarias. Apesar de serem crocantes, os coscorões têm uma textura leve, que combina perfeitamente com um chá ou café durante as festividades.
Rabanadas: O (Re)Aproveitamento Criativo
Também conhecidas como fatias douradas, as rabanadas são feitas a partir de pão embebido em leite, vinho ou calda de açúcar, depois frito e polvilhado com canela. A tradição das rabanadas remonta ao século XV e está ligada à necessidade de evitar o desperdício do pão. Inicialmente, eram consumidas como um pequeno-almoço robusto, porém, a sua doçura acabou por torná-las um símbolo das celebrações natalícias.
Há, contudo, algumas variações destes Doces de Natal de eleição, dependendo de algumas regiões, como o Minho, onde são servidas com uma calda de vinho e especiarias, enquanto no Alentejo se utiliza mel para realçar o sabor. As rabanadas também são conhecidas fora de Portugal, especialmente no Brasil (onde têm grande popularidade) e na Espanha, onde são chamadas de torrijas.
Bilharacos: O Sabor da Abóbora
Os bilharacos são Doces de Natal típicos da região de Aveiro, conhecidos pela sua massa densa à base de abóbora-menina. A receita inclui também farinha, açúcar e especiarias, como canela e raspa de laranja. Após serem fritos, são polvilhados com açúcar. Apresentam uma textura mais densas e menos aeradas do que os sonhos, mas igualmente deliciosos. É um doce que reflete a importância da abóbora na alimentação rural, especialmente durante o inverno. Em algumas localidades, os bilharacos são mesmo considerados indispensáveis na consoada.
Azevias: Os Rissóis Doces do Natal
As azevias destacam-se pelo seu recheio único, que pode variar entre grão-de-bico, batata-doce ou abóbora, misturados com açúcar, gemas e especiarias. A massa é semelhante à dos rissóis salgados, todavia, neste caso é doce e frita até ficar dourada. Os recheios podem variar de região para região. No Alentejo, por exemplo, são comuns as azevias de batata-doce e, no no Ribatejo, as que predominam são as de abóbora. A tradição destes Doces de Natal está profundamente ligada à doçaria conventual, onde o aproveitamento de ingredientes básicos era elevado a formas de arte. Algumas famílias preferem assar as azevias no forno, como uma alternativa menos calórica, mas sem perder o sabor.
Lampreia de Ovos: A Arte Conventual
Este doce é um triunfo da doçaria conventual portuguesa. Feito à base de fios de ovos e moldado em forma de lampreia (um peixe de aparência muito peculiar), é frequentemente decorado com frutas cristalizadas. É uma celebração da criatividade das freiras dos conventos, que transformavam ingredientes simples em verdadeiras obras de arte.
Tronco de Natal: Elegância com Origem Francesa
Inspirado na tradição francesa do Bûche de Noël, o Tronco de Natal é uma torta recheada com creme, frequentemente coberta com chocolate para imitar a aparência de um tronco de madeira. A tradição do Tronco de Natal remonta ao século XIX, em França, quando as famílias se reuniam ao redor de uma lareira para celebrar o Natal. Era hábito queimar um tronco de madeira especial, decorado com azeite, vinho ou especiarias, para trazer sorte e prosperidade no ano seguinte, prática que, com o tempo, foi desaparecendo.
Para manter viva a tradição, os pasteleiros franceses criaram uma sobremesa que imitava o tronco de madeira: o “Bûche de Noël”. A ideia rapidamente ganhou popularidade e, hoje, o Tronco de Natal é uma presença indispensável em muitas mesas natalícias por esse Portugal, como também em muitos outros países. O Tronco de Natal é um dos Doces de Natal mais conhecidos e que, na sua essência, é uma torta recheada, mas com uma apresentação sofisticada, em que são as decorações que acabam por os diferenciar.
A base consiste num pão-de-ló ou massa de torta, que é leve e fácil de enrolar. O recheio é, geralmente, creme de manteiga, chocolate ou natas, podendo incluir sabores como café ou praliné. A cobertura é, tradicionalmente, feita com ganache de chocolate, que é texturizada com um garfo para criar o aspeto de casca de árvore. Por fim, o Tronco é decorado com açúcar em pó (que imita neve), frutas cristalizadas ou elementos festivos, como folhas de azevinho, cogumelos de merengue ou até pequenas figuras alusivas ao Natal.
Os Doces de Natal em Portugal não são apenas uma festa para o paladar e, nalguns casos, autênticas bombas calóricas, mas também uma celebração da história, cultura e criatividade do país. Reúnem gerações em torno da mesa, perpetuando tradições que aquecem o coração e a alma. Assim, este Natal, quando estiver a saborear uma destas iguarias, lembre-se da importância não só da quadra que vivemos, mas, também, do quanto ela é saborosa, principalmente na companhia dos seus familiares.