Com as eleições americanas a aproximarem-se, o possível empate entre Kamala Harris e Donald Trump no Colégio Eleitoral coloca o país numa situação inédita e com implicações complexas, desde 1800. Entenda o que está em jogo e como este cenário pode afetar a política dos EUA
À medida que os Estados Unidos se preparam para decidir o seu futuro líder, surge uma possibilidade remota, mas real: um empate entre Kamala Harris e Donald Trump, que levaria à intervenção da Câmara dos Representantes na decisão final. O Colégio Eleitoral, com 538 votos distribuídos pelos 50 estados e o Distrito de Colúmbia, determina quem ganha a presidência. Um empate, com cada candidato a obter exatamente 269 votos, deixaria ambos aquém dos 270 necessários para assegurar a vitória.
Historicamente, empates no Colégio Eleitoral ocorreram apenas duas vezes, em 1800 e 1824, ambos com resultados complexos. O primeiro, entre Thomas Jefferson e Aaron Burr, foi decidido na Câmara dos Representantes após várias votações, resultando na introdução da 12ª Emenda, que agora regula o processo eleitoral nos Estados Unidos. A emenda institui um sistema que separa os votos para presidente e vice-presidente, prevenindo empates entre companheiros de chapa, mas, ainda assim, não evita a possibilidade de nenhum candidato alcançar a maioria.
Caso o empate se concretize, a eleição presidencial entraria numa fase de “eleição contingente”, onde a Câmara dos Representantes teria a palavra final. Segundo a 12ª Emenda, a Câmara votaria para decidir o presidente, com cada estado a ter direito a um voto – uma metodologia que oferece o mesmo poder decisório a estados com populações extremamente distintas. Por exemplo, Wyoming, com menos de 600 mil habitantes, teria o mesmo peso na votação que a Califórnia, com quase 40 milhões de habitantes.
A possibilidade de uma “eleição contingente” desencadeia uma série de cenários interessantes. A escolha do novo presidente dependeria da composição da Câmara dos Representantes, votada paralelamente às eleições presidenciais, e poderia levar a situações de coabitação inesperada. De acordo com a 12ª Emenda, se não houver um consenso na escolha do presidente, mas o Senado eleger um vice-presidente, esse indivíduo atuaria como presidente interino até à resolução do impasse. Neste caso, os EUA poderiam ver um vice-presidente de um partido e um presidente de outro.
Assim, um eventual empate entre Harris e Trump levaria o país a um novo capítulo na história das suas eleições, elevando a pressão sobre os representantes eleitos e abrindo a possibilidade para decisões que poderiam moldar profundamente a política americana, com consequências que vão muito além da presidência.