Decisão judicial considera o despedimento “ilegal” e destaca prática comum entre trabalhadores de consumir alimentos destinados ao lixo
O caso de um funcionário despedido pelo Mercadona em Albacete, Espanha, gerou controvérsia e culminou numa decisão judicial que deu razão ao trabalhador. Em julho de 2023, após o encerramento da loja, o funcionário, com 16 anos de serviço na empresa, comeu um croquete da secção de “pronto a comer”, que seria descartado por estar fora do prazo de venda. Esta ação resultou no seu despedimento, mas os tribunais espanhóis determinaram que a atitude da empresa foi desproporcionada e ilegal.
Uma Prática Comum Levada ao Tribunal
O incidente ocorreu no final do dia, a 8 de julho de 2023, quando o funcionário, então gerente de loja, recolhia alimentos para descarte. Ao consumir um único croquete, o Mercadona considerou que o colaborador violou as regras internas que proíbem o consumo de produtos sem pagamento. Dois dias depois, o funcionário foi dispensado, o que deu início a um processo judicial.
Segundo a justiça espanhola, era habitual os trabalhadores consumirem alimentos destinados ao lixo após o fecho das lojas. O tribunal apurou que o croquete em questão “não teria valor de mercado” por ser inutilizável no dia seguinte e destacou que o trabalhador não consumiu mais do que um exemplar do produto descartado.
Reversão do Despedimento e Indemnização
Em maio de 2024, o tribunal de primeira instância decidiu pela reintegração do funcionário no Mercadona, obrigando a empresa a pagar 39.700 euros em salários perdidos. A decisão foi baseada na conclusão de que o comportamento do trabalhador não configurava uma infração suficientemente grave para justificar o despedimento.
Apesar do recurso apresentado pelo Mercadona, o Supremo Tribunal de Castilla-La Mancha manteve a decisão, reiterando que a ação do funcionário não causou prejuízo económico à empresa, uma vez que o croquete estava destinado ao lixo. A sentença incluiu ainda o pagamento de 600 euros em honorários legais ao trabalhador.
Uma Decisão com Implicações Éticas e Laborais
O tribunal destacou que a política da empresa em relação aos produtos descartados deveria ser revista, considerando o contexto em que ocorreu o consumo do croquete. A decisão sublinha a necessidade de proporcionalidade nas medidas disciplinares aplicadas pelas empresas, especialmente em casos que envolvem práticas comuns e de baixo impacto económico.
A repercussão do caso trouxe à tona debates sobre o desperdício alimentar e as condições laborais no setor de retalho, colocando em evidência a importância de uma gestão mais ética e equilibrada.
Impacto na Imagem do Mercadona
O caso gerou atenção mediática significativa, levantando questões sobre as práticas internas da cadeia de supermercados e a rigidez das suas políticas laborais. Para o funcionário, a decisão representa uma vitória que destaca a importância dos direitos dos trabalhadores e da justiça no local de trabalho. Por outro lado, para o Mercadona, o episódio é um alerta sobre a necessidade de ajustar as suas práticas internas e políticas de gestão de recursos humanos.
Com a decisão judicial, o funcionário não apenas recupera o seu emprego, mas também serve como um símbolo da luta contra medidas disciplinares desproporcionais no ambiente laboral.