Líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, é distinguida pelo seu papel na defesa da democracia e dos direitos civis na Venezuela.
O Comité Nobel destacou María Corina Machado pela “coragem e determinação” de uma mulher que desafia a repressão de um regime.
A escolha do Comité Nobel: votos em vez de balas
O Comité Norueguês do Nobel anunciou, esta sexta-feira, a atribuição do Prémio Nobel da Paz 2025 à líder da oposição venezuelana María Corina Machado, reconhecendo o seu “trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos” e os esforços em prol de “uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.
Aos 58 anos, Machado torna-se a primeira venezuelana a receber o Nobel da Paz, sendo descrita como “uma defensora da paz corajosa e empenhada” num contexto de opressão política e crise humanitária. “Foi uma escolha de votos em vez de balas”, sublinhou o Comité, citando palavras da própria premiada.

“Este é um prémio para todo um movimento”
Após ser informada da distinção, María Corina Machado reagiu emocionada:
“Este é um prémio para todo um movimento, o movimento na Venezuela que lutou pela democracia.”
Em declarações divulgadas pela Reuters e pela AFP, a dirigente revelou-se “em choque”, mas determinada a continuar a luta. A ativista foi sequestrada no início do ano, em Caracas por agentes do regime chavista — um episódio que, segundo a própria, reforçou a sua determinação:
“Estou num lugar seguro e com mais determinação do que nunca para continuar convosco até ao final.”
Uma trajetória marcada pela resistência
Engenheira industrial de formação, María Corina Machado iniciou o seu percurso político como fundadora da organização não-governamental Súmate, em 2002, dedicada à defesa da transparência eleitoral e do desenvolvimento democrático.
Eleita deputada em 2011, enfrentou vários anos de perseguição política, chegando a ser impedida de concorrer às eleições presidenciais de 2024, quando surgia como a principal adversária de Nicolás Maduro. A sua liderança, a sua presença e a sua presença tem sido apontada como crucial para unificar uma oposição historicamente fragmentada.
“Machado tem sido uma figura-chave e unificadora numa oposição política que antes estava profundamente dividida”, afirmou Jørgen Watne Frydnes, presidente do Comité Nobel. “É precisamente isso que está no cerne da democracia: a vontade de defender o governo popular, mesmo em tempos de ameaça.”

Venezuela: de democracia a regime autoritário
Nos últimos anos, o país mergulhou numa profunda crise política, económica e social. Estima-se que quase oito milhões de venezuelanos tenham abandonado o país, fugindo da pobreza, da repressão — que inclui fraudes eleitorais, prisões arbitrárias e perseguições políticas — e da escassez de bens essenciais, enquanto Machado se manteve como uma das vozes mais firmes a favor de uma transição pacífica e democrática.
Derrota para Donald Trump
Entre os nomes mais falados para o Nobel da Paz deste ano estava Donald Trump, impulsionado pelos seus esforços diplomáticos no Médio Oriente e pelo recente cessar-fogo entre Israel e o Hamas. No entanto, o Comité Nobel sublinhou que privilegia “trabalhos de paz duradouros” em detrimento de conquistas momentâneas. Frydnes assegurou que a escolha foi feita “com coragem e integridade”, acrescentando que Machado “cumpre os três critérios estabelecidos por Alfred Nobel”: unir o povo, resistir à militarização e promover uma paz sustentável.

Um milhão de euros e um símbolo global
O Prémio Nobel da Paz é o único galardão da Academia Sueca entregue fora da Suécia — em Oslo, na Noruega, no dia 10 de dezembro, data que assinala a morte de Alfred Nobel, criador do prémio. Além da medalha de ouro e do diploma, a laureada receberá 11 milhões de coroas suecas (cerca de 1 milhão de euros). Ainda não está confirmado se María Corina Machado poderá comparecer à cerimónia, dado o clima político na Venezuela. Em 2024, o Nobel da Paz foi entregue à organização japonesa Nihon Hidankyo, que apoia os sobreviventes das bombas atómicas de Hiroxima e Nagasáqui.
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