Se percorreu recentemente o feed de TikTok de um pré-adolescente, é provável que tenha encontrado uma sequência surreal de criaturas geradas por inteligência artificial: bailarinas com uma chávena de cappuccino na cabeça, tubarões com ténis ou crocodilos fundidos com aviões.
Esse fenómeno tem um nome: Italian Brainrot.
Estas figuras falam com sotaques italo-americanos exagerados, repetem frases sem sentido e desaparecem tão depressa quanto surgem, apenas para regressar em versões ainda mais bizarras.
O que é o Italian Brainrot e como surgiu
O termo Italian Brainrot combina duas ideias: o “Italian”, que remete para a origem do meme, e “Brainrot” — uma expressão popular da internet usada para descrever conteúdo tão absurdo, caótico ou estimulante que parece “derreter o cérebro”.
Segundo o animador italiano Fabian Mosele, que ajudou a documentar o fenómeno, o Italian Brainrot começou no início de 2025, quando uma simples rima infantil chamada “Trallallero Trallallà” foi combinada com um tubarão gerado por IA a usar ténis. A junção insólita rapidamente se tornou viral.
Desde então, personagens cada vez mais absurdas têm surgido em vídeos que misturam humor, nonsense e remix digital. Embora o movimento tenha começado em comunidades italianas de memes, espalhou-se rapidamente pelo mundo, impulsionado pela facilidade de criação e pelo caráter participativo.
“O Italian Brainrot é a mais recente evolução dos memes absurdos. A piada é que não há piada — é apenas estranho”, explica Mosele.
Porque é que as crianças estão obcecadas
Para as gerações mais novas, sobretudo Gen Z e Gen Alpha, o Italian Brainrot é mais do que um conjunto de vídeos estranhos. É uma linguagem partilhada, um código que os adultos não entendem — e isso torna-o ainda mais apelativo.
Mosele descreve o fenómeno como uma forma de rebeldia digital. “É uma espécie de folclore da internet — um universo participativo que os grandes estúdios não controlam”, afirma.
A terapeuta familiar Cheryl Eskin compara o fenómeno a “algodão doce digital”: divertido, caótico e visualmente viciante. “É rápido, barulhento e sem filtros, e isso estimula os cérebros adolescentes, que procuram novidade e risco”, explica.
No entanto, Eskin alerta que a exposição contínua a este tipo de conteúdo pode ser excessiva. “Se for o único tipo de estímulo que consomem, podem surgir dificuldades de atenção, variações de humor ou problemas em desacelerar.”
Deve preocupar os pais?
Não necessáriamente, mas requer atenção. Especialistas defendem que o Italian Brainrot não é necessariamente perigoso, desde que haja equilíbrio e supervisão.
“Para as crianças, isto é uma forma de brincar e expressar criatividade”, diz Eskin. “Mas se o seu filho só se acalma com estímulos constantes ou perde o foco facilmente, é altura de intervir.”
Os vídeos do Italian Brainrot não são apenas consumidos; são recriados. As crianças imitam as vozes, inventam personagens e usam frases do meme no dia a dia. Essa apropriação torna o fenómeno mais difícil de compreender para os adultos.
Como os pais devem lidar com o Italian Brainrot
A chave, segundo Eskin, é curiosidade e ligação emocional.
“Não precisa de perceber todos os memes para ser um bom pai. Mas precisa de se manter curioso”, afirma.
Perguntar o que os filhos gostam nos vídeos e ouvir sem julgamento é essencial para manter a confiança.
A terapeuta recomenda ainda definir limites claros, não tanto sobre criatividade, mas sobre tempo de ecrã e exposição contínua.
“Vivemos num mundo que se move a alta velocidade. É importante ajudá-los a encontrar pausas, a dar descanso ao cérebro e a distinguir o real do digital.”
Um reflexo do humor moderno
O Italian Brainrot é, no fundo, um reflexo do humor das novas gerações — rápido, absurdo, participativo e irreverente. É uma rejeição dos formatos tradicionais e uma celebração do caos digital, criada num ambiente dominado pela inteligência artificial e pelos memes.
Como qualquer tendência online, o segredo está na moderação.
O fenómeno pode ser divertido e até criativo, mas convém lembrar que nem todos os cérebros conseguem viver em modo “rot” constante.
Para os pais, a melhor estratégia continua a ser simples: não entrar em pânico, não ridicularizar e manter o diálogo aberto.
E talvez, de vez em quando, lembrar aos mais novos que até o cérebro precisa de férias.






