Do design ao asfalto das pistas laranja, o universo Hot Wheels é um mundo de ciência, criatividade em miniatura.
Quem nunca lançou um pequeno carro de metal por uma pista laranja, imaginando-se num circuito de velocidade com loopings impossíveis? Desde 1968, a marca Hot Wheels, da norte-americana Mattel, tem transformado essa fantasia em realidade — ou melhor, em miniatura. O que parece apenas um brinquedo é, na verdade, o resultado de meses de engenharia, algoritmos matemáticos e designs de precisão, onde cada curva, cor e detalhe são pensados ao milímetro.
“Laboratório secreto” da Mattel
O epicentro deste universo encontra-se na costa oeste dos Estados Unidos, no Centro de Design da Mattel, um espaço que combina engenharia de ponta, com arte industrial. É lá que nascem os cerca de 400 novos modelos lançados todos os anos, num processo que pode durar até 18 meses, desde o primeiro esboço até à chegada às lojas.
Os criadores — uma equipa que junta engenheiros, designers e especialistas em física — começam com esboços à mão, muitas vezes inspirados em objetos do quotidiano (como o famoso Donut Drifter, inspirado numa rosquinha). Depois, recorrem a tecnologia de impressão 3D para dar forma às ideias, criando protótipos com até cinco técnicas de impressão diferentes.
As maquetas são polidas, revestidas e testadas com câmaras de alta velocidade que captam 10.000 fotogramas por segundo, para garantir que cada looping e salto funcionam exatamente como previsto. E é aqui que o impossível se torna real, graças a cálculos matemáticos aplicados à física do movimento.
Quando a ciência se encontra com a diversão
No coração da Mattel existe também o Chemlab, partilhado com outras marcas do grupo, como é o caso de outro brinquedo de sucesso, a Barbie. Este laboratório é responsável por testar novos materiais e tintas, além de desenvolver substâncias que se tornaram verdadeiros ícones entre os mais jovens — como é o caso do lendário slime verde, também ele nascido dentro destas paredes.
Os engenheiros tratam as pistas como se fossem circuitos de Fórmula 1 em miniatura, analisando cada inclinação, atrito e raio de cada curva. O objetivo é simples: garantir que qualquer modelo, do mais leve ao mais robusto, possa completar o percurso com sucesso — sem sair da pista, mesmo nas voltas e circuitos mais radicais.
O carro mais vendido do mundo
A Hot Wheels é um dos brinquedos mais vendidos do planeta em número de unidades. Estima-se que a cada segundo, em algum ponto do mundo, 19 carros Hot Wheels sejam vendidos. Desde o lançamento da marca, já foram produzidos mais de 8 mil milhões de carrinhos, o que significa que existem mais Hot Wheels do que automóveis reais em circulação.
Cada miniatura é aprovada fase a fase pelas marcas automóveis que representa. Quando a Mattel decide lançar um novo Jaguar, Ferrari ou Porsche, precisa de autorização direta do fabricante, que fornece planos originais, ficheiros 3D e especificações técnicas. O rigor é tal de forma aprimorado, que alguns modelos são quase indistinguíveis das suas versões reais — apenas 64 vezes mais pequenos.
E o mesmo acontece quando a recriação é baseada em filmes ou séries, como é o caso da franquia Fast and Furious, Cars ou Star Wars, entre muitos outros. Tudo tem que passar por uma aprovação prévia, com um controlo de qualidade e autorizações específicas para cada caso.

Hot Wheels x Mercedes-Benz: a fusão entre o real e o fantástico
Um dos projetos mais recentes e espetaculares é a colaboração entre a Hot Wheels e a Mercedes-Benz. A marca alemã permitiu à Mattel recriar o seu CLA num formato à escala real, com pintura em tons vibrantes, ailerons imponentes e detalhes flamejantes típicos do universo Hot Wheels. O resultado foi apresentado no Hot Wheels Legends Tour, um evento mundial que celebra o design automóvel como forma de arte.
Mas o projeto não ficou por aí: em 2026, esta versão real do Mercedes CLA será convertida numa miniatura 1:64, transformando um carro de exposição num brinquedo de sonho — um verdadeiro exemplo do lema da marca: “Play Beyond Limits”.
Curiosidades sobre o universo Hot Wheels
- Lançamento: a primeira coleção de Hot Wheels surgiu em 1968, com 16 modelos iniciais, conhecidos como os “Sweet 16”.
- Velocidade em miniatura: as pistas podem atingir velocidades equivalentes a 480 km/h em escala real.
- Colecionadores: estima-se que existam mais de 15 mil colecionadores registados de Hot Wheels no mundo, alguns com mais de 20 mil unidades.
- O modelo mais raro: o Volkswagen Beach Bomb de 1969, versão protótipo, foi vendido em leilão por mais de 150 mil dólares.
- Cores infinitas: o laboratório da Mattel pode criar veículos em quatro mil milhões de combinações de cores.
- Colaborações reais: marcas como Tesla, McLaren, Lamborghini, Ferrari e Porsche já forneceram desenhos oficiais para versões Hot Wheels.
- Séries especiais: os “Treasure Hunt” e “Super Treasure Hunt” são as edições mais procuradas — com tiragens limitadas e acabamentos premium.
- Presença digital: o universo expandiu-se para videojogos, como Hot Wheels Unleashed (2021), e até para o metaverso.
- Cinema à vista: a Warner Bros. e a Bad Robot, produtora de J.J. Abrams, estão a desenvolver o primeiro filme live-action de Hot Wheels.

Uma cultura sobre rodas
Hot Wheels é hoje muito mais do que uma marca de brinquedos — é uma referência cultural que une engenharia, arte e nostalgia, que consiste, na sua base e na sua génese, está em manter vivo o espírito da infância, enquanto se reinventa através da tecnologia e da inovação. Na era em que os automóveis reais se tornam elétricos e autónomos, a Mattel continua a provar que a verdadeira velocidade está na imaginação — e que nunca se é demasiado adulto para deixar de brincar com um carro azul a descer uma pista laranja.






