Gene Hackman, que festejou os seus 95 anos no passado dia 30 de janeiro, era o mais antigo vencedor vivo do Óscar de Melhor Ator. A sua carreira, que se estendeu de 1967 a 2004, foi marcada por interpretações inesquecíveis e por uma presença intensa no cinema americano. Amplamente conhecido pela sua capacidade inata de adaptação a qualquer personagem, com naturalidade e credibilidade, é relativamente simples de se afirmar que Hackman nunca teve uma interpretação propriamente “má”.
O Início
Nascido em 1930, Eugene Allen Hackman teve uma infância difícil, marcada fortemente pelo alcoolismo da mãe e pelo abandono do pai. Aos 16 anos, alistou-se nos fuzileiros Navais dos EUA servindo como operador de rádio. Após o serviço militar, explorou diversas profissões antes de se dedicar à representação. Estudou na Pasadena Playhouse, onde, juntamente com Dustin Hoffman, foi considerado “menos provável de ter sucesso”. Mais tarde, e desafiando todas as expectativas, mudou-se para Nova Iorque, onde iniciou uma carreira no teatro e na televisão, lutando de forma árdua por uma carreira no cinema.

A Carreira
Pode dizer-se que Hackman começou a sua carreira no cinema relativamente tarde, apenas aos 37 anos. A estreia de Hackman aconteceu em Lilith e o Seu Destino (1964), porém, foi em Bonnie e Clyde (1967), ao lado de Warren Beatty, onde interpretou o irmão de Clyde, que se revelou e se deu a conhecer ao mundo. A sua interpretação valeu-lhe a primeira nomeação para o Óscar e, a partir daí, Hackman tornou-se uma presença constante no ecrã.
Ao longo dos anos, Hackman construiu uma carreira sólida, destacando-se em papéis como o detetive Popeye Doyle em Os Incorruptíveis Contra a Droga (1971), que lhe valeu o Óscar de Melhor Ator e O Vigilante (1974), por muitos, considerado mesmo o seu melhor trabalho.








A sua versatilidade era notável. Hackman podia ser um polícia implacável, um treinador de basquetebol, um comandante de submarino ou até um vilão delirante como Lex Luthor em “Superman” (1978). Independentemente do papel, ele trazia uma autenticidade que cativava o público, elevando muitas vezes a qualidade das produções com a sua presença. Como disse uma vez, o seu método era simples “aprender os diálogos e não tropeçar na mobília”. Mas, na verdade, era a sua capacidade de encontrar a essência de cada personagem que o tornava único.
Sucessos e Insucessos
Gene Hackman destacou-se pela capacidade de encarnar personagens diversas, desde figuras autoritárias a indivíduos vulneráveis. Em Mississippi em Chamas (1988), o seu papel como agente do FBI rendeu-lhe mais uma nomeação ao Óscar. Em The Royal Tenenbaums (2001), brilhou como o patriarca disfuncional Royal Tenenbaum, demonstrando a sua versatilidade em géneros variados.
Contudo, ao longo da sua carreira, Hackman foi alternando entre filmes mais aclamados pela crítica e produções mais comerciais e, nalguns casos, menos aclamados pelo público. Enquanto alguns projetos, como “A Aventura do Poseidon” (1972), não atingiram o nível de qualidade necessário, nem o próprio chegou a ver o seu filme, apesar do público lhe reconhecer uma boa prestação, a verdade é que a sua presença elevou até os filmes mais medíocres, com este a ser eventualmente um dos casos mais evidentes. Em 1992, voltou a brilhar em Imperdoável, de Clint Eastwood, um western poderoso, ganhando o seu segundo Óscar, desta vez como Melhor Ator Secundário.
Aliás, poderemos dizer que entre os seus maiores sucessos, estão, precisamente, Imperdoável (1992), Superman (1978), no qual deu vida ao vilão Lex Luthor, Maré Vermelha (1995), onde travou no interior de um submarino uma intensa e claustrofóbica batalha contra Denzel Washington e Os Tenenbaums – Uma Comédia Genial (2001). Pelo meio, ainda contracenou com Joaquim de Almeida, em Atrás das Linhas do Inimigo (2001), filme que ainda hoje o ator português lembra que a cena que mais lhe custou foi precisamente aquela em que teve que elevar a voz a Gene Hackman, tal a importância e imponência, não só física, do ator norte americano.
Saúde e Vida Pessoal
Gene Hackman enfrentou problemas cardíacos ao longo dos anos, submetendo-se inclusivamente a uma angioplastia, em 1990. Apesar disso, manteve-se ativo até ao início dos anos 2000, quando decidiu reformar-se para se dedicar a outras paixões, como a escrita e a pintura. Publicou vários romances de ficção histórica e viveu tranquilamente em Santa Fé com a sua esposa. Casado desde 1991 com a pianista Betsy Arakawa, Hackman viveu uma vida discreta, longe dos holofotes de Hollywood. Em 2008, confirmou que se tinha retirado da indústria cinematográfica, cansado dos bastidores de Hollywood e das situações de stress.
Citações “Famosas” de Hackman
- “A diferença entre um herói e um covarde é um passo para o lado.”
- “Não me urines no ouvido e digas que está a chover.”
- “Como um pato no lago. Na superfície, tudo parece calmo, mas debaixo de água, aqueles pezinhos estão a mexer-se a mil à hora.”
- “Setenta e cinco por cento de ser bem-sucedido como ator é pura sorte. O resto é apenas resistência.”
- “Se te vês como uma estrela, já perdeste algo na interpretação de qualquer ser humano.”
- “Fui treinado para ser ator, não uma estrela. Fui treinado para interpretar papéis, não para lidar com a fama, agentes, advogados e a imprensa.”
- “A honestidade não é suficiente para mim. Isso torna-se muito aborrecido. Se conseguires convencer as pessoas de que o que estás a fazer é real e também maior do que a vida – isso é emocionante.”
- “Não gosto de assassinos ou de homens de baixo caráter.”
- “As famílias disfuncionais geraram um bom número de atores bastante bons.”
- “Custa-me muito emocionalmente ver-me no ecrã. Penso em mim mesmo e sinto que sou bastante jovem, e depois olho para este velho com queixos flácidos, olhos cansados e a linha do cabelo a recuar e tudo isso.
A Notícia Que Ninguém Esperava
Gene Hackman foi encontrado morto, na sua casa em Santa Fé, Novo México, juntamente com a sua esposa, Betsy Arakawa. A notícia chocou o mundo do entretenimento, marcando o fim de uma era para um homem que, durante décadas, encarnou personagens memoráveis com uma honestidade rara. Hackman, que completou 95 anos recentemente, deixa para trás um amplo registo cinematográfico que continua e continuará a servir de base a várias gerações.
O Cinema que Perde uma Lenda
Gene Hackman deixa um registo cinematográfico inigualável, marcado por interpretações intensas e autênticas, que influenciaram gerações de atores e cineastas. A sua dedicação à arte da representação e a capacidade de dar vida a personagens complexas asseguram-lhe um lugar de destaque na história do cinema. Podemos dizer que Gene Hackman não foi apenas um ator; foi um contador de histórias que trouxe humanidade a cada papel que interpretou. Desde os anti-heróis dos anos 70 até aos personagens cómicos dos anos 2000, é responsável por ter deixado uma marca inolvidável no cinema. A sua morte, juntamente com a de Betsy Arakawa, encerra um capítulo na história do entretenimento, mas o seu trabalho continuará a ser celebrado por fãs e críticos.

Nas palavras do próprio, a chave era “aprender os diálogos e não tropeçar na mobília”. E, ao fazê-lo, ele conquistou o mundo do cinema e o cinema a todos os que o seguiam!
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