Fundador do Expresso e da SIC deixa um legado de liberdade, rigor e inovação que moldou o país moderno
A morte de Francisco Pinto Balsemão, aos 88 anos, encerra uma das trajetórias mais marcantes da história contemporânea portuguesa. Fundador do Expresso e da SIC, antigo primeiro-ministro e empresário de referência, Balsemão foi um dos rostos da liberdade e do pensamento independente em Portugal.
A notícia do seu falecimento, confirmada na segunda-feira, abalou o país, gerando uma onda de consternação e homenagens vindas dos mais diversos quadrantes políticos, empresariais e culturais.
Nascido em Lisboa, a 1 de setembro de 1937, Francisco Pinto Balsemão foi um dos fundadores do semanário Expresso em 1973, numa época em que o país ainda vivia sob censura. O jornal tornou-se rapidamente um símbolo de liberdade editorial, espírito crítico e independência, valores que se tornaram sinónimo da sua figura.
Mais tarde, em 1992, Balsemão fundou a SIC, a primeira estação de televisão privada em Portugal, um projeto que revolucionou o panorama mediático nacional e consolidou o pluralismo informativo.
“Francisco Pinto Balsemão foi um exemplo de luta pela liberdade de expressão, de empreendedorismo e inovação”, destacou a Liga Portugal, numa nota de pesar.
Francisco Pinto Balsemão com Rui Nabeiro – Globos de Ouro
Do Parlamento à chefia do Governo
Mas o seu percurso não se limitou à comunicação social. Francisco Pinto Balsemãofoi deputado à Assembleia Constituinte após o 25 de Abril, ministro e, entre 1981 e 1983, primeiro-ministro de Portugal, sucedendo a Francisco Sá Carneiro, de quem era próximo.
Apesar de uma passagem breve pelo Governo, ficou reconhecido pela sua integridade e visão democrática, num período de grande instabilidade política e económica.
O declínio da saúde e o afastamento público
Nos últimos anos, Pinto Balsemão enfrentava graves problemas de saúde. O fundador da SIC viveu os seus últimos meses em recato na Quinta da Marinha, acompanhado pela família e por uma equipa médica, após um internamento prolongado.
A sua ausência da gala dos Globos de Ouro, em setembro, levantou preocupações sobre o seu estado clínico. Fontes próximas revelaram que a residência do empresário foi adaptada para garantir conforto e vigilância médica permanente.
Mesmo debilitado, manteve até ao fim o interesse pelo país e pelo jornalismo, tendo gravado o seu último podcast, “Deixar o Mundo Melhor”, no verão passado.
Homenagens de todo o país
Entre as muitas figuras públicas que reagiram, Luís Montenegro destacou “o papel transformador de um homem que acreditava na força da liberdade e do mérito”. O primeiro-ministro revelou que falou com Francisco Pinto Balsemão no último verão e recordou-o como “um lutador que sempre se manteve fiel aos seus princípios”.
Também Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a perda de um “homem de cultura e serviço público”, enquanto jornalistas, empresários e políticos sublinham o legado cívico e humano deixado por Balsemão.
O adeus a um visionário
Francisco Pinto Balsemão foi mais do que um político ou empresário: foi um transformador social, um construtor da liberdade de imprensae um dos grandes arquitetos do Portugal democrático.
A sua herança não se mede apenas pelos projetos que fundou, mas pela cultura de independência e seriedade que ajudou a instaurar no país.
Partiu em silêncio, tal como viveu os últimos tempos, com a serenidade de quem sabia ter cumprido o seu papel.