Todos os anos, a 27 de janeiro, o mundo une-se em memória das vítimas do Holocausto, no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, uma das mais sombrias e devastadoras tragédias da história humana.
Instituído pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 2005, este dia evoca a libertação de Auschwitz-Birkenau, o maior campo de extermínio nazi, ocorrido nesta data em 1945 e que faz hoje precisamente 80 anos. A data que marca a libertação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, tem por objetivo homenagear as vítimas do nazismo, promovendo a conscientização sobre a necessidade de prevenir futuros genocídios. Mais do que uma homenagem às vítimas, este dia é um apelo global à educação, à preservação da memória e à luta contra todas as formas de intolerância.
A Importância de Recordar
A Resolução 60/7 da ONU, que oficializou o 27 de janeiro como Dia Internacional da Memória do Holocausto, sublinha a importância de rejeitar a negação do Holocausto e promove a conservação de locais históricos, como Auschwitz, Dachau e Treblinka. Estes espaços, outrora palco de horrores inimagináveis, são hoje testemunhos da violência física e psicológica que ali se viveu e da necessidade de manter viva a memória, ainda que seja uma por demais dolorosa.
Amparada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, a resolução condena todas as formas de intolerância religiosa, perseguição ou violência contra pessoas ou comunidades com base na sua origem étnica ou crença religiosa.
Desde 2006, que as Nações Unidas realizam anualmente cerimónias que destacam diferentes perspetivas do Holocausto. Estas incluem as histórias dos sobreviventes, o impacto nas mulheres e crianças e o heroísmo de quem arriscou a vida para salvar perseguidos. Estas iniciativas são complementadas por eventos em todo o mundo.
Comemorações e Educação: Um Compromisso Global
A primeira cerimónia oficial do “Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto” foi realizada na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, no dia 27 de janeiro de 2006. O evento contou com cerca de 2.200 participantes, tendo sido transmitido ao vivo para todo o mundo. Desde então, as cerimónias anuais na sede da ONU tornaram-se tradição, sendo complementadas por eventos organizados pelos escritórios regionais das Nações Unidas e pelos governos de diversos países.
A partir de 2010, a ONU começou a adotar temas específicos para aprofundar a reflexão durante o período das comemorações. Cada tema explora diferentes aspetos do Holocausto, como o impacto nas crianças (2012), o papel das mulheres (2011) ou as jornadas da deportação à libertação (2014). Em 2016, por exemplo, foi destacada a ligação entre a Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e os horrores do Holocausto.
Em 2015, pelo menos 39 países participaram das celebrações do “Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto”. As atividades variaram entre palestras, exibições de filmes (The Boy in the Striped Pajamas, “O Rapaz do Pijama às Riscas, 2008 e Schindler’s List, “A Lista de Schindler”, 1998, dois dos títulos contemporâneos mais impactantes), documentários e cerimónias simbólicas, como o acendimento de velas e a leitura dos nomes das vítimas.
Muitos países também criaram os seus próprios dias de memória. Na Argentina, por exemplo, o dia 19 de abril foi instituído como o “Dia Nacional da Diversidade Cultural”, em homenagem à Revolta do Gueto de Varsóvia. Na Hungria, o dia 16 de abril é o “Dia Nacional de Lembrança do Holocausto”, marcado pela data da criação do gueto de Munkács. Nos Estados Unidos, o Congresso estabeleceu o “Dia de Lembrança”, em 1979, que geralmente ocorre entre abril e maio, coincidindo com o Yom HaShoah, o dia de memória israelita.



O Antissemitismo na Atualidade
Apesar dos esforços para manter a memória do Holocausto viva, o antissemitismo continua a crescer. Em países como a Alemanha, o número de ataques antissemitas atingiu níveis recorde nos últimos anos, impulsionado por narrativas de ódio, maioritariamente espalhadas em redes sociais e por discursos políticos polarizadores e extremistas.
Sigmount Königsberg, comissário de antissemitismo em Berlim, alerta para o aumento de preconceitos e ataques a comunidades judaicas. O uso de plataformas digitais para disseminar ódio e teorias da conspiração é um desafio crescente. Termos como “sionista” são usados como eufemismos para “judeu”, perpetuando preconceitos históricos de forma insidiosa, conceitos esses que todos gostaríamos de ver e ter apenas na memória de cada um de nós ou relembrada nestes dias. Porém, infelizmente, não é isso que se tem vindo a assistir, com quase numa base diária, assistirmos a notícias que preferíamos não ver.
Educação e Ação: A Chave para o Futuro
Para enfrentar este ressurgimento do ódio, é essencial educar as novas gerações sobre os horrores do Holocausto. O envolvimento emocional e o confronto com narrativas antissemitas são estratégias fundamentais para desconstruir preconceitos. Vários especialistas e sociólogos, destacam a importância de alcançar as pessoas através de histórias pessoais e da preservação de memórias vivas.
A somar a isso, é necessário um maior controlo ou elemento regulador do discurso de ódio nas plataformas digitais, criando um equilíbrio entre liberdade de expressão e a prevenção da disseminação de ideologias de ódio. As redes sociais, que amplificam narrativas perigosas, devem passar a ser responsabilizadas pelo seu papel na perpetuação do antissemitismo, ainda que, compreensivelmente, tal seja um feito bastante complexo de se alcançar a curto prazo.
O “Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto” não é apenas sobre as vítimas do passado, mas sim sobre a construção de um futuro onde nunca mais se repitam os crimes que todos conhecemos e ouvimos. A recordação do Holocausto é um compromisso com os valores de dignidade humana, tolerância e justiça. Num mundo onde o ódio ainda persiste sob várias formas, a memória do Holocausto é uma poderosa lembrança de que o silêncio e a inação são cúmplices da injustiça.
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