Num mundo cada vez mais digital, garantir a segurança online das crianças e jovens tornou-se uma missão partilhada entre famílias, escolas e entidades públicas. Tal como ensinamos as crianças a não abrir a porta de casa a estranhos, é crucial capacitá-las e aos seus pais e avós para que também não abram a Porta Digital, por forma a navegarem com segurança no mundo online, eliminando, assim, potenciais ameaças.
A Internet pode ser uma excelente ferramenta de aprendizagem, socialização e criatividade. No entanto, como qualquer porta aberta, também expõe os utilizadores – especialmente os mais jovens – a riscos como o cyberbullying, o contacto com desconhecidos, a desinformação e a exposição a conteúdos nocivos. É por isso que se torna urgente educar as crianças para não abrirem a porta digital a estranhos, tal como já lhes ensinamos a não o fazer no mundo físico, dando destaque à necessidade de uma maior e melhor literacia digital, mediação ativa por parte dos adultos e a criação de estratégias educativas e legais que acompanhem a rápida evolução tecnológica.
Porque é urgente agir?
Segundo um inquérito europeu, cerca de 2 mil crianças entre os 11 e os 18 anos já foram vítimas de cyberbullying. Este número é apenas um dos muitos indicadores de que há uma necessidade premente de dotar pais, professores e cuidadores com ferramentas para proteger os mais novos. Para Hélder Bastos, inspetor da Polícia Judiciária, é essencial ensinar as crianças a reconhecerem os perigos e a desenvolverem espírito crítico. Tal como lhes ensinamos a não abrir a porta de casa a estranhos, devemos aplicar o mesmo princípio às interações online: “não abrir a porta digital a quem não se conhece”.

Dicas e Técnicas para Fortalecer a Porta Digital dos Jovens:
1. Fale abertamente sobre a Internet e os seus perigos
O primeiro passo é criar um ambiente de confiança onde os jovens se sintam à vontade para falar sobre as suas experiências online, incluindo contactos inesperados ou situações desconfortáveis. Pergunte sobre as suas atividades online, os amigos que fazem e os tipos de mensagens que recebem.
Sugestão: Utilize exemplos práticos e histórias para ilustrar os perigos de interagir com estranhos online. Explique que nem tudo o que se vê na internet é verdadeiro e que as pessoas podem não ser quem dizem ser. Crie um espaço seguro onde possam partilhar preocupações sem medo de represálias.
2. Eduque sobre perfis falsos e abordagens suspeitas
Explique que nem todos os utilizadores são quem dizem ser. Ensine-os a desconfiar de mensagens de estranhos, mesmo que pareçam inofensivas ou venham de “amigos de amigos”. Alerte os jovens para terem cuidado com mensagens de desconhecidos, especialmente aquelas que pedem informações pessoais, dinheiro, fotos ou vídeos. Explique que não devem clicar em links suspeitos ou descarregar ficheiros de fontes desconhecidas.
Sugestão: Ensine-os a identificar sinais de alerta, como erros de português, promessas de prémios fáceis ou pedidos urgentes e secretos. Incentive-os a mostrar essas mensagens a um adulto de confiança que os ajudará a mostrar se aquela porta digital em concreto é uma que deve ou não ser aberta.
3. Estabeleça regras claras para o uso da tecnologia
Estabeleça regras claras sobre o que é aceitável e o que não é no mundo digital. Isso inclui quem podem adicionar como amigos nas redes sociais, que tipo de informações podem partilhar online e com quem podem conversar. Crie horários para o uso de dispositivos, defina os sites e aplicações permitidas e utilize ferramentas de controlo parental. No entanto, o diálogo deve sempre complementar a vigilância.
Sugestão: Utilize ferramentas de controlo parental para gerir o tempo de ecrã, filtrar conteúdos inadequados e monitorizar as atividades online dos mais jovens. Explique o porquê destas regras, enfatizando a sua segurança.
4. Promova o espírito crítico e a verificação da informação
Explique que é fácil para alguém fingir ser outra pessoa online. Incentive-os a verificar a identidade dos seus amigos online através de outros meios de comunicação (como videochamada com um adulto presente) e a serem cautelosos com perfis recém-criados ou com pouca informação. Ensine-os a questionar o que leem e veem online, especialmente em redes sociais ou motores de busca e principalmente que a primeira página de um motor de busca não é o mundo todo.
Sugestão: Utilize exemplos de casos reais (adaptados para a idade) de pessoas que foram enganadas online para ilustrar os perigos.
5. Encoraje comportamentos responsáveis
Ensine os jovens que têm o direito de dizer “não” a pedidos ou conversas que os façam sentir desconfortáveis. Explique que não são obrigados a responder a mensagens de estranhos ou a fazer coisas que não querem.
Sugestão: Crie cenários de role-playing para praticar como dizer “não” de forma assertiva em diferentes situações online.
6. Valorize a literacia digital como matéria essencial
Explique que tudo o que é partilhado online deixa uma “pegada digital” que pode ser difícil de apagar e pode ter consequências no futuro. Incentive-os a pensar cuidadosamente antes de publicar qualquer coisa. Discuta exemplos de como informações partilhadas online podem ser usadas indevidamente ou podem afetar a sua reputação. O papel dos adultos é crucial na intermediação entre os jovens e o mundo e da porta digital. Esteja presente, mostre interesse pelas suas atividades online e ofereça orientação e apoio. Tal como se aprende matemática ou português, especialistas também defendem que deveria ser obrigatória a literacia digital nas escolas, o que inclui ensinar como funciona a IA, como identificar fake news ou como proteger os dados pessoais.
Sugestão: Mantenha-se atualizado sobre as plataformas e tendências online que os jovens utilizam para poder compreendê-los melhor e identificar potenciais riscos.

A porta digital pode ser também uma janela para o conhecimento ou um caminho para o risco. A diferença está na forma como educamos e acompanhamos as novas gerações. A Internet é um espaço onde os mais jovens vão viver, estudar, socializar e trabalhar – mas é essencial garantir que o fazem com segurança, consciência e, principalmente, sentido crítico.