Símbolo de fé e tradição, o Presépio narra o nascimento de Jesus e percorre séculos de história, desde a sua criação, por São Francisco de Assis, até às adaptações culturais em Portugal e no mundo.
A “Palavra” Presépio
Em português significa “local da Natividade”, é muito mais do que uma decoração natalícia. É a representação simbólica do nascimento de Jesus Cristo, em Belém, tal como descrito nos Evangelhos de Lucas e Mateus. Esse ícone cristão remonta a um dos episódios mais importantes da fé cristã: o momento em que Deus enviou o seu filho ao mundo, nascido numa manjedoura simples, entre animais, pastores e, mais tarde, os Três Reis Magos.
São Francisco de Assis e o Primeiro Presépio
Embora a história da Natividade remonte ao próprio nascimento de Jesus, foi no século XIII que o presépio ganhou forma como o conhecemos. São Francisco de Assis, reconhecido pelo seu amor à simplicidade e à natureza, quis aproximar o povo da história de Jesus de uma forma tangível. Em 1223, na floresta de Greccio, Itália, ele organizou o primeiro presépio vivo, com a participação de camponeses, animais reais e uma manjedoura, recriando a cena do nascimento.
Este evento marcou a história da Igreja, tornando-se, rapidamente, uma tradição difundida por mosteiros, catedrais e, mais tarde, pelas residências da nobreza europeia. A Duquesa de Amalfi, por exemplo, criou em 1567 um presépio monumental com 116 figuras, dando início à prática de incorporar mais elementos e detalhes à cena original.
Numa abordagem mais direcionada para um público mais jovem, fica aqui uma explicação simples e sintética do surgimento do Primeiro Presépio.
O Presépio e Portugal
Portugal recebeu a tradição ainda na Idade Média, sobretudo devido à influência franciscana. Alenquer, conhecida como a “Vila Presépio”, desempenhou um papel especial nesta história. Frei Zacarias, enviado por São Francisco, considerou o cenário natural da vila como uma “autêntica Belém”, e, desde então, a ligação de Alenquer a esta tradição tornou-se numa que não mais desapareceu.
O Presépio Tradicional Português destaca-se pela sua singularidade. Além da Sagrada Família, pastores e Reis Magos, as representações portuguesas incluem figuras locais, como lavadeiras, moleiros e bailarinos de ranchos folclóricos. As figuras, muitas vezes feitas de cerâmica artesanal, refletem o quotidiano e a cultura popular, conferindo um toque nacional à celebração da Natividade.
Em muitas localidades, esta tradição é de tal forma importante, que são várias as entidades que participam ativamente na sua construção. Por exemplo, os Bombeiros ou até variados Municípios, costumam anualmente construir os seus presépios, com recurso a peças e figuras que se movimentam, para celebrar o Natal. Em muitos locais, também costumam existir representações reais, com personagens humanas, que tornam ainda mais caloroso tudo o que o Presépio representa.
Curiosidades sobre o presépio em Portugal
- Em muitas casas portuguesas, o Menino Jesus só é colocado na manjedoura na noite de Natal, após a Missa do Galo.
- Alenquer começou em 1968 a montar um gigantesco presépio nas suas colinas, uma tradição que reforça o seu título de “Vila Presépio”.
- Em Estremoz, o presépio ganhou formas únicas com as famosas figuras de barro alentejanas, evoluindo durante o Estado Novo para um estilo distintivo com tronos e degraus que organizam os personagens.
A tradição do presépio espalhou-se por todo o mundo, adaptando-se às culturas locais. No Brasil, destaca-se o Presépio do Pipiripau, em Belo Horizonte, com 586 figuras móveis que narram não apenas o nascimento, mas também outros episódios da vida de Jesus. Já em Espanha, Alicante entrou para o Guiness World Records em 2020 pelo maior presépio do mundo, com 55 metros de comprimento.
Significado e personagens
Cada elemento possui um simbolismo profundo:
- Menino Jesus: Representa a humildade e a redenção.
- Maria e José: Figuras de fé e obediência a Deus.
- Animais: Simbolizam a simplicidade e a paz.
- Reis Magos: Representam a universalidade da salvação.
- Estrela de Belém: Um guia divino que levou os Reis Magos até Jesus.
Mais do que uma tradição natalícia, é uma celebração de valores que transcendem o tempo: humildade, fé e comunidade. Em cada casa, praça ou igreja onde é montado, ele relembra a essência do Natal e a mensagem de amor, esperança e salvação que ele simboliza.
Que nesta época do ano, ao montar o presépio, possamos revisitar esses valores e vivê-los em plenitude.
Afinal, como dizia São Francisco de Assis, “é dando que se recebe”.