O pudim Molotof é uma daquelas sobremesas que transporta quem a prova diretamente para os anos 80, uma época de blazers de ombros largos, penteados altíssimos e festas familiares onde este pudim de claras era quase obrigatório.
Leve, sedoso e dulcíssimo, o Molotof é mais do que uma simples sobremesa: é um pedaço de história, com um nome que esconde uma curiosa ligação a conflitos bélicos e uma receita que, aparentemente simples, pode ser traiçoeira.
O Molotof nos Anos 80: Um Doce que Marcou uma Geração
Quem viveu os anos 80 em Portugal certamente se lembra do pudim Molotof como uma presença constante em festas e restaurantes. A imagem de uma senhora com um penteado esculpido a jato de laca, blazer colorido e sombra azul nos olhos, delicadamente saboreando uma colherada do pudim, é icónica da época. O Molotof era sinónimo de sofisticação e doçura, um “dulcíssimo pecado” que conquistava paladares e corações.
Apesar de não ser unanimidade – há quem prefira suspiros ou bolos de prata para aproveitar as claras –, o Molotof tem um lugar especial na memória coletiva. Quem o prepara, fá-lo muitas vezes por amor, pensando no sorriso de quem o prova.
O Nome: mas é Molotof ou Molotov? Ou Malakov?
A primeira dúvida que surge é sobre o nome: Molotof ou Molotov? A grafia correta é com “v”, mas normalmente diz-se com o “f”. Mas a origem do nome é ainda mais intrigante. O Molotof, na verdade, nasceu como “Malakof”, um doce associado à Guerra da Crimeia (1854-1855). O nome “Malakof” refere-se a uma fortaleza que protegia a cidade de Sebastopol, conquistada pelo general francês Pélissier, que recebeu o título de duque de Malakof.
Mas como é que um doce ligado à Guerra da Crimeia se transformou no pudim Molotof que conhecemos hoje? A resposta está na Segunda Guerra Mundial. Vyacheslav Mikalovich Skriabine, ministro dos Negócios Estrangeiros da União Soviética, ficou conhecido como Molotof. Por associação, em Portugal, o nome do doce terá evoluído de Malakof para Molotof, ganhando um toque de ironia e uma pitada de história bélica.
A Receita: Simples, mas não para qualquer um
A receita do pudim Molotof é aparentemente simples: claras em castelo, açúcar e um toque de vinagre ou sumo de limão para estabilizar as claras. No entanto, este pudim tem fama de ser traiçoeiro. Muitos cozinheiros amadores já enfrentaram desastres culinários ao tentar prepará-lo, resultando em “coisas” que nem comidas conseguem ser.
O segredo para um Molotof perfeito está no respeito por algumas regras básicas: evitar mudanças bruscas de temperatura, correntes de ar e, sobretudo, não exceder o tempo de cozedura. Quando bem feito, o Molotof é uma obra-prima da doçaria portuguesa, leve e delicado, que derrete na boca.
O Molotof Hoje: Uma Sobremesa com História
Hoje, o pudim Molotof já não é tão comum como nos anos 80, mas continua a ser um símbolo de uma época e uma sobremesa que carrega consigo uma história fascinante. Seja pela sua ligação à Guerra da Crimeia, pelo nome que remete à Segunda Guerra Mundial, ou pela sua presença marcante nas festas familiares portuguesas, o Molotof é muito mais do que um simples pudim de claras.
Para quem se aventura na cozinha, preparar um pudim Molotof é uma experiência que exige paciência e dedicação, mas que recompensa com um sabor único e uma viagem no tempo. E, no final, há sempre a satisfação de ver alguém saborear essa doçura com um sorriso nos lábios – tal como nos anos 80.
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